O Mito da caverna do Rock

                                    O mito da caverna do Rock



Há muito tempo existia um filósofo e matemático chamado Platão, um homem que era mais conhecido por ter vergonha de chegar na guria que gostava, passando a amá-la de longe, fazendo o que os historiadores chamam de Amor Platônico. Platão também é conhecido por ter criado o Mito da Caverna (ou Alegoria da Caverna), que era um conto que tinha como objetivo mostrar que todas as pessaos podem se libertar da condição de conformismo humano que nos aprisiona, buscando a luz da verdade. Por incrível que pareça, o conto foi criado
no ano de Quemsabedeus A.C., e se encaixa com perfeição na Sociedade atual, inclusive no Rock. Se você nunca leu o Mito da Caverna original, leia o presente abaixo, que tem a mesma mensagem e é muito mais atual...

                                       O Mito da Caverna do Rock                                                                                          

Sócrates: Imagine a maneira como segue o estado da nossa natureza, relativamente à instrução e à ignorância. Imagine pessoas com vida razoável sem maiores tribulações, com condições normais e totalmente mundanas. Estas pessoas são assim desde a infância, com sua mente e espírito mirados à Sociedade e à Mídia, que impõem todas as informações que elas precisam. Às pessoas é mostrada o mundo de uma forma falsa e bela, mostrado pelas revistas, televisão, rádio, jornais, e outros veículos de comunicação, que enchem a cabeça dessas pessoas constantemente.

Glauco: Não é difícil imaginar, nós vivemos em meio a isso.

Sócrates: Sim... imagine agora tudo o que a Mídia e Sociedade apresentam. Alguns homens e mulheres mostrados como deuses, por seu trabalho de canto ou por serem apenas celebridades. Alguns até falam ou criticam esta idolatria, mas não são levados à sério, e a maioria prefere ficar em silêncio.


Glauco: Isso sempre acontece.
 
Sócrates: E achas que, numa tal condição, com tanta informação sendo transmitida e fazendo a cabeça das pessoas, elas realmente conseguiriam formar as suas próprias opiniões e ter um pouco que seja de personalidade?


Glauco: Como, se são obrigadas pela Sociedade e Mídia a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?


Sócrates: E estes supostos músicos? Não seriam adorados também?

Glauco: Sem dúvida.

Sócrates: Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade à imagem fabricada de celebridades e artistas?

Glauco: Assim terá de ser.

Sócrates: Agora considere o que lhes acontecerá, naturalmente, se estas pessoas forem libertadas de sua condição mundana e curados da sua ignorância. Que se liberte uma destas pessoas, que ele forme sua própria opinião, veja as coisas com mais profundidade, pesquise, procure entender a origem e a razão de tudo, e finalmente erga os olhos para a luz. Ao fazer todos estes atos, esta pessoa liberta não verá as coisas como elas são e dirá pois, que só via sombras da realidade? Não acha que ela ficaria embaraçada por outrora adorar imagens falsas?

Glauco: Na verdade envergonhada...

Sócrates: Mas e depois, quando tiver que se aceitar por não gostar mais do que adorava antigamente? A pessoa não irá ficar confusa sobre corresponder à vontade da maioria ou tentar descobrir coisas novas?

Glauco: Com toda a certeza.

Sócrates: Então esta pessoa percebe que estas coisas novas que ela experimenta são brutas demais, correspondendo à sua nomenclatura: "rocha" e "metal pesado". Se ele experimentar mais, não ficará assustado e amedrontado, com medo do que está se envolvendo? Não pensará em voltar a viver como antes, mas com desgosto por saber que aquilo não é real, enfim... não ficará em dúvida se aceitará aquela nova realidade a que ele se propôs a viver?

Glauco: Ele não conseguirá se adaptar, pelo menos de início.

Sócrates: Ele terá pois, necessidade de se habituar a ver seus ex-ídolos com outros olhos. Começará a ignorar os veículos de comunicação da Mídia; em seguida, as imagens falsas criadas dos artistas e histórias sobre eles; por último, toda a sua Sociedade. Depois disso, poderá, enfrentando a brutalidade de sua nova perspectiva, contemplar mais facilmente sua realidade


Glauco: Sem dúvida.

Sócrates: E agora, lembrando-se de sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles que foram seus companheiros, não achas que se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?

Glauco: Sim, com certeza, Sócrates.

Sócrates: E mesmo com pena dos seus companheiros, não preferirá se recusar a voltar àquela situação e renegar aquelas ilusões que vivia?

Glauco: Sou de tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.

Sócrates: Mas imagine que este homem por acaso volta à seus amigos e sua vida antiga. Ele volta com suas vestimentas novas e negras, seu visual mudado, assim como sua forma de pensar. Ele não se sentirá envergonhado por estar deslocado do grupo?

Glauco: Por certo que sim.

Sócrates: E a pior parte vem agora: quando ele entrar em discussão com seus antigos amigos. Logicamente ele será criticado ou ridicularizado pelo seu novo modo de pensar. Dirão também que o "lado de lá" é ruim, já que seu antigo conhecido saiu lúcido e voltou cego com suas ideias erradas. O ponto da ferida deles será quando este homem disser que despreza todos os artistas que eles adoram. Esta reação, por outro lado, já era esperada, não é?

Glauco: Sem nenhuma dúvida.

Sócrates: Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que dissemos atrás e fazer uma análise tornando-a metafórica, baseando-se no Mito da Caverna de Platão. A nossa vida, a Mídia e a Sociedade são como os prisioneiros descritos no interior da caverna, e o ponto escuro da Sociedade seria a luz do Sol penetrando a caverna. Tudo até aqui é o contrário; o Bom é mostrado como ruim e o Mal é mostrado como bom. E mais: a subida do prisioneiro livre ao exterior da caverna é o momento onde ele alcança uma sabedoria superior, como se fosse a ascensão da alma para o mundo bom, o mundo verdadeiro (True). Agora veja: tanto o prisioneiro da caverna de Platão quanto o nosso personagem descobriram o mundo verdadeiro por último, visto que antes eles apenas começaram a ter ideia dele, questionando sua forma de vida e seu meio. Isso quer dizer que todos nós nascemos com nossos olhos cerrados, e poucos de nós conseguem abrir os olhos. E estes que conseguiram enxergar a luz merecem estar onde estão hoje, pois conseguiram a sabedoria.

Glauco: Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê-la.

Conto belo, não é? Quem diria que já existiam simpatizantes headbangers antes de  Jesus?  
 Claro que a interpretação do conto vai de cada um... mas esta versão acima até foi honesta.

Como o Skid Row já dizia: Get the Fuck Out... the cave!